sexta-feira, 29 de outubro de 2010

JOAQUIM MOREIRA DA SILVA - POETA CARPINTEIRO



Hoje vou falar de Joaqim Moreira da Silva o Poeta Carpinteiro, o Poeta de Vilar, o Poeta Cego. Para isso recorri ao livro que tenho na minha mesinha de cabeceira, e que foi editado pela Câmara Municipal de Vila do Conde, e conpilado por Armanda Zenhas.

Nasceu no dia 15 de Março de 1886 na rua da Carrapata, freguesia de Vilar concelho de Vila do Conde.


Aos sete anos foi servir para a casa de lavoura do Ventura Neves, aqui em Vilar.


Aos dezasseis foi trabalhar para outro lavrador, o Ramos da Rosa ainda em Vilar.


Aos dezoito foi trabalhar para o Porto na arte de carpinteiro, e ao mesmo tempo começou a frequentar a Escola Nocturna de alfabetização Vasco da Gama, onde aprendeu a ler e escrever.


Casou em 1909 com Rosa Maria Marques e fixou residência no lugar de Soutelo desta Freguesia.


Deste casamento nasceram 2 filhos, o António que nasceu e morreu no ano de 1910. E o Alberto que nasceu em 1902.


Homem pacato e simples, que lutou incansavelmente, e que sempre denunciou as injustiças sociais.



Fá-lo muitas vezes recorrendo à sátira e à ironia, lançando o ridículo, ora sobre grupos ou classes sociais, como a burguesia ou os padres, ora sobre indivíduos escrupulosos.





Radicalmente anticlerial escreveu:

Mas a todos os canalhas,
Pulhastras, pulhas, poltrões;
Eu com a minha caneta,
Afrontei perseguições
E fui-lhes rasgando a máscara
Diante das multidões.





Com a minha lavoura preta
Feita nesta agra branca
Levaram coças tremendas...
Que isto franquezinha franca,
Sovas da minha caneta
Doem mais que as de uma tranca!

Esclareceu e ensinou (chegando até a versificar um método de leitura) e recusando compromissos com os poderosos da economia, do governo, da administração, da igreja, que impiedosa e incansavelmente ironizou e desmascarou, sem temer as prisões em que mais do que uma vez o meteram.

Para mim propriamente
Nunca colhi benefício!
Colhi sempre como prémio
De todo o meu sacrifício,
Ódios e perseguições
Dos mestres do meu ofício.

Sem fazer delito algum,
Mas por ter nobres ideias;
E as expor em comícios
Na cidade e nas aldeias,
Experimentei diversas vezes
As tarimbas das cadeias!

Entregava á saída da missa, das casas, numa feira ou festa os seus pasquins, e as suas louvações, suas narrativas e até as suas fantasias ou suas pedagogias.
Poeta por vezes ingénuo, outras vezes utópico, frequentemente moralista e irónico que não perde em confronto com outros poetas populares, hoje mais conhecidos, como Calafate, Manuel Alves e António Aleixo.

Um dia de casamento, adro da igreja de Vilar, quando se atirou com outros rapazes para a apanha dos confeitos, como era a tradição nessa altura a foicinha que trazia à cintura o cegou de um olho, (como Camões).

Assim como os passarinhos
Nasceram para voar
Eu, nasci para ser poeta
Nesta terra de Vilar,
E por isso ser verdade,
Faço versos a sonhar!

No campo por entre as flores
Com alegres ceifeiras,
Eu cantava ao desafio
Ás vezes tardes inteiras!

Nas letras do alfabeto,
Há um imenso farol;
Quem estudar encontra nelas
Mais luz que o próprio Sol!

Joaquim Moreira da Silva - O POETA CARPINTEIRO, morreu a 12 de Dezembro de 1960 ( com hemorrogia cerebral ) tinha 74 anos de idade.
O seu funeral foi uma profunda manifestação de pesar e um dos maiores que já se fizeram na freguesia. De acordo com testemunhos recolhidos, vieram muitas pessoas do Porto e o enterro não levou padre. A bandeira da Associação Cultural e Recreativa "Honra e Dever", para quem o poeta tinha feito o hino, cobriu o caixão. Do acontecimento deram conta alguns jornais. Foram eles: O Comércio do Porto, A República, O Século, e o Norte Desportivo.

Eu sofro do coração...
Decerto findarei breve!
Mas como já tenho feito
O que um homem fazer deve,
Também já pouco me importa
Que venha a "Morte" e me leve.

Ao dormir o sono eterno
Na paz sagrada e sem fim
Repito mais uma vez
Que não quero para mim,
Nem rezas nem água benta
Nem os roncos do latim.

A quem for ao meu enterro
Demonstrar seus sentimentos
Pra conforto da família
Naqueles lances cruentos,
Quero deixar bem expressos
Os meus agradecimentos.

Deixou uma obra extensa, diversificada e de grande qualidade, abrangendo mais de uma centena de títulos.
A 12 de Dezembro de 2010 será o 50º Aniversário da sua morte.
A 15 de Março de 2011 será o 125º Aniversário do seu nascimento.

Desejava muito que todos os Vilarenses e não só comemorassem estas datas, para que o nosso Poeta seja lembrado e sobretudo para que nunca caia no esquecimento da nossa gente, da nossa freguesia e do nosso concelho. Para isso as forças vivas desta terra têm que aproveitar estas datas para dinamizar o nome e o Poeta que sem sombra de dúvida, é o maior vulto de Vilar.

A figura do Poeta Carpinteiro é hoje recordada com saudade e carinho pelas pessoas de Vilar, desconte-se aqueles que por tacanhez ou convicção são adversas à liberdade de ideias. Os velhos recordam-no de lágrimas nos olhos. Ele lutou pelo pão dos pobres e isso não se esquece fácilmente. Os novos, esses herdam dos pais o respeito por ele. Moreira da Silva era um Poeta; exercia o fascínio da magia da palavra. Era e é por isso, um motivo de orgulho para a freguesia de Vilar, de Vila do Conde de Portugal.


( No dia 14 de Março de 1998 a ASS. CULT. RECR. "Honra e Dever" sendo eu, elemento da Direcção, empenhamo-nos e organizamos uma justa homenagem no nosso Salão Nobre.

Foi com o seguinte programa;
PALESTRA: Joaquim Moreira da Silva " o Anarquista e o Poeta " Persseguido pela justiça - Proferida pela dra. Adelina Piloto
SARAU MUSICAL com: José Manuel e Júlia Rodrigues - acomp. á viola por: José saraiva
SARAU POÉTICO; Monteiro dos Santos/Maria do Céu/Carina Piloto
TEATRO DE FANTOCHES por; Grupo de Jovens da "Honra e Dever"
APRESENTAÇÃO DE UM LIVRO C/OBRAS DE Joaquim Moreira da Silva compiladas por Armanda Zenhas

Foi uma linda Homenagem e que encheu de orgulho todos os que assistiram a esta Festa.




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